Desde que começou a ser estudado e implementado no mercado brasileiro, em 2021, o open finance mudou bastante o cenário dos serviços financeiros no Brasil. Este ecossistema permite o compartilhamento seguro de dados de clientes entre instituições financeiras para que a oferta de produtos e serviços fique cada vez mais acessível e competitiva. E, mesmo que não esteja tão na boca do povo quanto o Pix, ele tem ajudado cada vez mais brasileiros a conseguir melhor acesso ao sistema financeiro.
Além da inclusão financeira que o open finance tem oferecido à população, o modelo tem feito os mais variados players de serviços financeiros melhorarem seus serviços e apostarem em inovação. E não para por aí: o Banco Central, responsável pela sua implementação no Brasil, promete trazer outras inovações que vão torná-lo ainda mais amplo, como integração com seguros, portabilidade de investimentos e ainda mais facilidade para fazer pagamentos no Pix.
Vem conferir com a gente o que ele já trouxe para o mundo financeiro no Brasil e o que esperar no futuro!
As características do open finance adotado no Brasil
Nossa versão do Open Banking desenvolvido em outros países, o open finance – que dá para traduzir como “sistema financeiro aberto” – é um modelo planejado para democratizar a oferta de produtos e serviços financeiros. Este ecossistema tem sido cada vez mais adotado mundo afora para estimular a inovação, a concorrência e gerar benefícios para os consumidores.
Mas vamos lembrar como ele funciona?
Dá para resumir assim: de forma consentida, o usuário pode compartilhar seus dados financeiros com as instituições financeiras que ele escolher. Com isso, passa a ter acesso rápido e descomplicado a mais (e melhores) produtos no mercado, fora do banco ou instituição financeira onde ele já tem uma conta ou contratou algum serviço. Por exemplo, cartões, empréstimos e financiamentos.
A iniciação de pagamentos, uma iniciativa do open finance
Já viu um app de delivery mostrar “Pagar com open finance”? É disso que estamos falando! Foi este novo ecossistema quem trouxe a tecnologia que permite a iniciação de pagamentos (ou ITP), o modelo que faz o Pix ser usado de forma ainda mais rápida para pagar uma conta.
Hoje, o usuário já pode pagar com Pix em aplicativos de delivery ou transportes, entre outros, sem precisar usar a função “Copia e Cola” e completar tudo no app do banco. Nos apps que já têm essa iniciação, basta o usuário autorizar o compartilhamento de seus dados bancários de uma determinada conta para permitir a realização de pagamentos diretamente pelo app do serviço, confirmar o valor de determinada compra e validar – sem precisar fornecer senha ou mudar de app para completar tudo.
Segundo a Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), a facilitação de pagamento com o Pix permitida pelo open finance deve encurtar até a metade do tempo gasto para completar uma transação no e-commerce com o sistema queridinho de pagamentos instantâneos.
Seja na contratação de serviços ou em pagamentos com Pix, o compartilhamento de dados autorizado pelo usuário só ocorre entre instituições participantes do open finance, para finalidades determinadas e por um prazo específico. Ou seja, sempre protegendo o sigilo dos dados das pessoas. O consumidor também pode cancelar a autorização a qualquer momento em qualquer uma das instituições envolvidas no compartilhamento. Melhor ainda: todo esse compartilhamento é feito através de integração automática, através do uso de chamadas via APIs, que tornam automático o contato tecnológico entre os sistemas de diferentes instituições financeiras.
Do Open Banking ao open finance: como o modelo evoluiu por aqui
Lançado em 2021 ainda sob o nome de Open Banking, o open finance no Brasil foi sendo desenvolvido em fases até chegar ao nome que tem hoje. Se antes os dados dos usuários eram usados apenas para fins bancários, agora eles são cada vez mais aproveitados nas variadas soluções que fazem parte do Sistema Financeiro Nacional (SFN), chegando até mesmo a seguros e previdência.
Resumindo esta trajetória:
- Após o desenvolvimento do projeto-piloto, a primeira fase de implementação do open finance começou em novembro de 2022, com o acesso a dados abertos de produtos e serviços financeiros;
- A segunda fase veio em julho de 2023, já com o compartilhamento direto dos dados cadastrais e transacionais dos clientes para contas, cartão de crédito e produtos de crédito contratados;
- Além disso, o Banco Central também trabalha com provedores para em breve permitir que os usuários compartilhem dados referentes a outros produtos financeiros, como comentamos no começo do artigo.
Os participantes do Sistema Financeiro Nacional (SFN)
Como o open finance vem mudando a relação dos brasileiros com os serviços financeiros
Este é um caso marcante das vantagens que a interoperabilidade de serviços financeiros traz. Afinal, ele oferece aos usuários muito mais possibilidades de usar suas finanças com liberdade de escolha. Graças a ele, o consumidor fica menos dependente das soluções de um mesmo banco – ou então de passar por longos processos de cadastros ou de portabilidade em instituições financeiras.
Embora o open finance seja uma inovação bastante recente, algumas de suas medidas já vêm mostrando sucesso ao mudar velhos hábitos dos brasileiros. Por exemplo, através de:
- O uso cada vez maior da iniciação de pagamentos em serviços de delivery ou transportes (ou mesmo para fazer transferências diretamente através de apps de mensagens);
- A facilidade cada vez maior de conseguir portabilidade de serviços dos mais variados tipos, o que ajuda consumidores a contratar soluções como financiamentos com ofertas cada vez mais competitivas no mercado;
- E a possibilidade de abrir uma nova conta de banco e levar os dados da instituição antiga para a nova, mantendo as duas contas. Nada de ficar repetindo dados para cadastro ou análise!
Reconhecimento em alta
Pouco a pouco, a praticidade já vem mostrando frutos: entre junho de 2022 e julho de 2023, o número de consentimentos de usuários ao Open Finance aumentou em 5,6 vezes. De acordo com o projeto Open Finance Brasil, coordenado pelo Bacen, o percentual de brasileiros que demonstravam receio com o compartilhamento de dados neste contexto caiu de 45,8% em 2021 para 34% em 2023.
Além disso, uma pesquisa da Ipsos a pedido da TecBan mostra que 52% dos entrevistados estão dispostos a ingressar no ecossistema, dado que representa a máxima histórica. E, segundo a consultoria de gestão Oliver Wyman, espera-se inclusive que 60 milhões de brasileiros se unam a ele até 2025.
O fato de o próprio usuário ser “dono” do produto bancário/financeiro que ele tem, e não a instituição, é algo que vai estimular a migração e dar mais liberdade. Imagino que isso ainda deve aumentar muito o número de adesões ao open finance.
Bruno Martucci, Diretor de Produtos da Pomelo no Brasil
E, dentro do setor financeiro, o Brasil é considerado um dos casos de ecossistemas de Open Banking mais avançados do mundo. O país recebeu inclusive vários reconhecimentos internacionais por seu potencial de inovação e pelo estímulo à tecnologia e ao aumento da competitividade no setor.
Quais são as perspectivas para o futuro do Open Finance no Brasil?
Considerando algumas novidades que o Banco Central promete implementar em breve, dá para esperar ainda mais inovação e competitividade. Segundo o Bacen, os próximos passos do modelo no Brasil são:
- Open Insurance: Assim como produtos financeiros tradicionais já vêm sendo beneficiados pela interoperabilidade do Open Finance, os seguros são a próxima fronteira. O Banco Central e a Superintendência de Seguros Privados (Susep) vêm trabalhando na interoperabilidade entre os ecossistemas de Open Finance e Open Insurance. Assim, o consumidor vai passar a ter vida mais fácil para levar seus dados de instituições financeiras para para corretoras e seguradoras supervisionadas pela Susep, garantindo uma oferta ainda mais de opções de portabilidade.
- Open Investment: Em setembro de 2023 chega a nova etapa do Open Finance: a entrada em campo dos investimentos. Com o modelo, o compartilhamento de informações também passa a valer para aplicações dos clientes em renda fixa (tanto de produtos bancários quanto do Tesouro Direto), renda variável (ações, fundos imobiliários) e fundos de investimento. Ou seja, estimulando melhores condições para fazer investimentos, como taxas menores e mais opções de aplicações. Por exemplo, com o consumidor podendo escolher e migrar sem burocracia para ter ações e cotas de um fundo de investimento na corretora X, investir em um CDB no banco Y e ter outros produtos de renda fixa na fintech Z.
- Novidades quentes na iniciação de pagamentos: A infraestrutura de iniciação de pagamentos também está sendo aprimorada para ficar mais robusta e permitir que cada vez mais fintechs habilitadas possam oferecer este serviço para facilitar os pagamentos com Pix. Além disso, o Bacen trabalha para lançar a ferramenta de pagamentos recorrentes, aproveitando o “débito automático” via Pix: ou seja, quando a iniciação de pagamentos é usada para cobrar serviços de valor variável como conta de luz ou telefone.
- Agregador para facilitar o acesso a ofertas: Para tornar o ecossistema ainda mais prático, nada melhor do que encontrar as melhores ofertas em um lugar só. Hoje, algumas instituições financeiras oferecem seus próprios agregadores que concentram ofertas de serviços financeiros disponíveis via Open Finance. Mas o Bacen promete trabalhar para centralizar tudo isso. Este é o objetivo do “super app”, que, dentre outras funções, reúne dados e ofertas de várias instituições financeiras habilitadas dentro de um único ambiente.
E quais os desafios para atrair mais usuários a este ecossistema inovador?
O desconhecimento e a desconfiança sobre o open finance ainda são obstáculos para que este modelo engrene. Ainda que a educação financeira tenha ajudado a popularizá-lo e dispersar mitos de que ele pode levar à violação de dados sigilosos, diferentes pesquisas mostram que a maior parte da população ainda não conhece o que este modelo é, ou o que ele permite ao usuário.
Segundo especialistas, até 2023, a preocupação central do Banco Central e dos players que trabalham no desenvolvimento do open finance esteve em aprimorá-lo tecnologicamente – mas que agora é o momento de reforçar suas vantagens. De acordo com autoridades do setor, alguns temas-chave para vencer a resistência ao modelo são:
- Cibersegurança e medidas que reduzam o risco de fraude;
- Garantir o respeito à Lei Geral de Proteção aos Dados Pessoais (LGPD);
- Comunicação clara do conceito e das vantagens de ingressar neste ecossistema.
Nosso Diretor de Produtos no Brasil, Bruno Martucci, conta que antigas práticas dos consumidores em relação aos serviços financeiros ainda vão precisar de tempo para serem vencidas:
A mudança de hábitos não é algo que o brasileiro esteja tão acostumado no setor de produtos financeiros. Muitas vezes o open finance faz o potencial usuário pensar: “Será que é fraude, isso de compartilhar dados?”. É um tema que precisa ser mais bem explicado a nível de educação financeira para ampliar a adesão a este modelo. Inclusive, o próprio nome “open finance”, em inglês, dificulta essa compreensão de suas vantagens.
Bruno Martucci, Diretor de Produtos da Pomelo no Brasil
Entre desafios e avanços, o open finance brasileiro ainda tem bastante chão a percorrer. Mas de uma coisa a gente sabe: não vão faltar oportunidades para os serviços financeiros inovarem e elevarem a qualidade da sua oferta para os consumidores!